segunda-feira, maio 09, 2011

O Bar

2ª Edição

Versão minimal:

Acabara o último cigarro há um quarto de hora. Lembrara-se na altura que tinha que comprar mais. Sem pensar, pegou no maço vazio e procurou lá dentro um cigarro.
Não havia nem um.
- Querida, disse, vou lá abaixo num instantinho comprar cigarros e volto já.
Até hoje, nunca mais apareceu.

Versão completa:

Acabara o último cigarro há um quarto de hora. Lembrara-se na altura que tinha que comprar mais. Sem pensar, pegou no maço vazio e procurou lá dentro um cigarro.
Não havia nem um.
- Querida, disse, vou lá abaixo num instantinho comprar cigarros e volto já.
Abriu a porta e desceu os 17 degraus a correr e de seguida. Chegado ao café, desilusão. Já estava fechado.
- Lá ao fundo desta rua, à sua direita, há um bar que ainda deve de estar aberto. – retorquiu o dono do café à sua pergunta enquanto fechava a porta.
A noite estava fria e ele estava com pressa. Dirigiu-se na direcção indicada a passo rápido. Quando chegou ao bar, entrou e apeteceu-lhe um trago de qualquer coisa forte e que aquecesse. Chegou-se ao balcão, e sentou-se ao lado de uma loira que falava ao telemóvel.
- Um Cutty Sark só com gelo, por favor. – Enquanto o empregado lhe servia o whisky pediu dois maços de cigarros.
A loira acabara o telefonema e fizera dos seus gestos e da sua cara o alvo da sua atenção nos segundos seguintes. De seguida abriu a carteira, retirando dela um estreito maço de Slims e, enquanto se voltava para ele cruzando as pernas, pediu-lhe, com voz rouca, semicerrando os olhos:

- Do you have a light? –
Meteu a mão no bolso direito das calças e retirou um pequeno isqueiro Bic. Enquanto lhe acendia o cigarro, olhou a cara dela com atenção e sorriu.
- Obrigada.
Não o tenho visto por aqui. – disse ela com ar casual enquanto expirava o fumo e guardava na carteira o estreito maço de Slims.
Palavra puxa palavra e meia hora depois estavam os dois em casa dela.
Algum tempo depois, ele olhou para o relógio que trazia no pulso esquerdo e disse:
- Meu Deus, distraí-me completamente... a minha mulher vai-me matar!
A loira soergueu as sobrancelhas enquanto, distraidamente, apertava o roupão.
- A menos que... tens por acaso pó de talco ?- perguntou-lhe
- Pó de talco?- inquiriu a loira soerguendo ainda mais as sobrancelhas,
- A-acho que sim. Porquê?-
- Vai-mo buscar, por favor. Rápido.-
A loira desapareceu e voltou calmamente segundos depois segurando uma embalagem de talco Johnson´s com que ele polvilhou um pouco as palmas das mãos, esfregando-as uma na outra de seguida.

Regressado a casa, muito devagarinho introduziu a chave na porta e abriu-a silenciosamente.
A luz e o som provenientes da sala prenunciavam a tempestade que, dali a nada, iria desabar. Estava f-o-d-i-d-o. Entrou na sala pé ante pé e perguntou-lhe, por entre os flashes da TV Shop e os do olhar dardejante dela:
- Querida, ainda está a pé? Mas é tardíssimo.-
- Tu tens cá um descaramento...Francamente! Onde é que estiveste até agora?
- Mas é que tu nem sabes o que me aconteceu.
- Ah pois não. E estou mortinha por saber. Ora vamos lá a ouvir a história que inventaste desta vez. Desembucha!
- Estou-te a dizer! Fui lá abaixo ao café para comprar cigarros como te disse antes de sair, só que o café estava fechado. Disseram-me que ao fundo da rua havia um bar que costumava ficar aberto até tarde e fui até lá. Acabei por conhecer uma rapariga loira muito simpática e fomos até casa dela beber um copo. Palavra puxa palavra e....
- Tu tens é uma grandessissima lata. Mostra-me as tuas mãos imediatamente. Ah-ha! Com que então uma loira hein?! Mas tu pensas que me enganas, meu sacana? Tu estiveste foi outra vez no bowling com os cabrões dos teus amigos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Sei não...será que ele acreditou que ela acreditou?!tá certo que é pra lá de original, mas vamos e convenhamos , essa é de doer!!!
Já conhecia o texto, mas é sempre tão atual...mudam os tempos mas certos costumes permanecem.

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