domingo, janeiro 30, 2005

Alentejo II

O fim de tarde ia acontecendo, com sol forte e sem vento, sobre as searas de trigo a perder de vista. A hora era de Alentejo em ponto. Atravessando essa paisagem, salpicada por azinheiras e sobreiros centenários, arrastavam-se devagar e silenciosos dois pastores conduzindo sem pressas o rebanho aos currais do Monte, que ficava aí a uns dois quilómetros para poente.
De olhos postos no chão, que o sol estava áspero e encadeante, um deles repara em uma ponta de charuto caída entre a erva seca, na berma do caminho. Pára, baixa-se lentamente e segura a beata de charuto com cuidado. Enquanto se endireita, com o vagar e perplexidade de quem tem todo o tempo do mundo mas acabou de fazer uma descoberta súbita, rola lentamente a beata de charuto entre o polegar e o indicador da mão direita. Diz:

- Sabes uma coisa Zé? Isto, isto é que é fumar. Olha bem p'ra isto. Igualzinho aos do Engenheiro.

Metendo a mão esquerda no bolso das calças, por debaixo dos safões encardidos, retira um velho isqueiro a gasolina com que acende a beata de charuto. Após inspirar profundamente duas longas fumaças, deixa sair o fumo devagarinho por entre os dentes descarnados pela piorreia e os beiços entreabertos. Observa por instantes o morrão aceso, as sobrancelhas arqueadas e, pensativo, diz:

- Um gajo pranta uma merda destas nas beiças e sente-se logo rico, pôceras!-
- Ah é? - respondeu o outro.
- É pois. Tás vendo além aquele olival entre a arceada do pasto e o cabeço da viúva?
- Tou. Que é que tem?-
- Amanhã vou comprá-lo. Todinho.
- Porra, pá. passa-me aí essa merda e deixa-me cá experimentar também pra ver como é que é.-

O outro passa-lhe a beata de charuto e ele dá duas fumaças curtas seguidas de uma longa e bem puxada. Enquanto solta o fumo devagarinho, semicerra os olhos na direcção do olival entre a arceada do pasto e o cabeço da viúva. Diz:

-É verdade Tói tu tens razão. Um gajo sente-se logo outro. Mas dizias tu...
- Disse que vou comprar aquele olival além, entre a arceada do pasto e o cabeço da viúva.
-Nããã. Não me parece.
-Então porquê?
- Porque não to vendo.

3 comentários:

Anónimo disse...

VEM AÍ O LOUCO!O senhor Freitas revela nos dois últimos anos, uma irracionalidade e intolerância, que levou a uma profunda alteração das suas convicções. Estes são os primeiros sinais de alerta para o início insidioso desta doença, que há uns anos atrás enlouqueceu o seu pai. No exame clínico poucas anomalias se observam, à excepção de uma tendência para deficiências sociais prévias (que já se começaram a detectar). De acordo com as circunstâncias sociais e com o grau de assistência por parte dos parentes, haverá uma tendência para a degradação social. Este tipo de Doença Psiquiátrica, tem uma forte componente hereditária.Imaginem se este senhor estiver a ocupar um cargo político, que tenta desesperadamente alcançar.
O PAÍS AGUENTARÁ UM PRESIDENTE LOUCO?
Veja a Análise Psiquiátrica feita pelo Professor Doutor João da Quinta1º comportamento Esquizóide - Mania da PerseguiçãoExigimos uma Análise ao Azoto de Freitas! O País pode estar em perigo.Freitas Manifesta uma Personalidade Esquizóide!

www.riapa.no.sapo.pt

taparuere disse...

nada como o alentejo... já agora, qual é q é mesmo a marca dos charutos?

www.taparures.blogspot.com

riacho disse...

E anda meio mundo (dito "colunável", mas com umas quantas falhas nas vértebras) a soprar nas ventas de outro meio.
Não admira que no meio de tanta fumarada os destinos sejam, de facto, ilusórios.
;-)

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