domingo, março 20, 2005

Deprimente

Deprimente a insistência em eleger Pedro Santana Lopes como único assunto de discussão, de conversa e de escrita nas páginas dos jornais, noticiários, blogs etc., desta república seca, pobre, invejosa e malcriada em que se tornou o Reino de Portugal.
Se a salganhada que começou com a demagogicamente encurtada cerimónia de tomada de posse do governo de José Sócrates, passando pela incontinência verbal do secretário de Estado das Finanças, na sequência de afirmações do póprio Ministro das Finanças, seguida da intempestiva intervenção ingerente do Governador do Banco de Portugal, incluindo o patético apelo à organização do Estado feito pelo seu próprio Chefe dissertando no alentejo sobre incêndios e a acabar na cegada da Bombardier tivesse acontecido durante o governo anterior já teriam caído Carmo, Trindade, Chiado, Camões, Restauradores, Rossio e o camandro.
No entanto tudo isto aconteceu durante a última semana e o único assunto de que Vasco Pulido Valente, por exemplo, se lembrou para dissecar na última página do Público de hoje foi o regresso de Pedro Santana Lopes à Câmara de Lisboa.
É, apenas e só, profundamente deprimente.
Eu explico: Qualquer governo saído da deserção de Barroso para Bruxelas, qualquer um, seria perseguido até cair. Quanto mais quando os trompeteiros que tocam a carga são, eles próprios, membros do aparelho do partido do governo. Quem quer que fosse que chefiasse esse governo tornado refém da re-organização do partido do Presidente da República pelo próprio Barroso (que fez questão em assegurar ao Presidente Sampaio que só aceitaria o cargo de Presidente da Comissão Europeia se Sampaio lhe garantisse que não convocaria eleições) ficaria com a sua imagem política em muito mau estado. Politicamente hábil, há que reconhecê-lo, foi a gestão que o Presidente da República fez da situação: o objectivo da maioria absoluta seria conseguido mais tarde, a seguir ao Verão. Nunca com Ferro Rodrigues como secretário geral do partido.
O objectivo era só um : a recuperação do poder pelo Partido Socialista com maioria absoluta.
No entanto, as medidas de austeridade que o governo implementará terão o seu preço político tanto nas autárquicas como nas presidenciais. Se o candidato do PS não ganhar as presidenciais, o partido socialista pode tirar o cavalinho da chuva no que respeita a cumprir uma legislativa que seja.
O precedente foi aberto com Sampaio: desgastado com o descontentamento provocado pela implementação de medidas impopulares o partido socialista será apeado do poder pelo próximo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva que, entre duas dentadas numa fatia de pão-de-ló de Alfeizarão, anunciará ao país a demissão do Primeiro Ministro e a dissolução do Parlamento.
Tão deprimentemente previsível.

2 comentários:

mr pavement disse...

feliz e paradoxalmente, chove para aliviar esse panorama deprimente.

esta lógica de falar do tempo ainda tem uma certa [f]utilidade.

cumprimentos.

Afonso Henriques disse...

Trono, meu caro JRD? Curiosa designação para a Presidência da República vinda de tão ferrenho republicano...
Boas férias para si também.

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