quinta-feira, maio 26, 2005

6,83 % ?

Não sei porquê mas aquele "3" do "83" faz-me uma espécie do camandro. Tresanda a rigor mais que suspeito. Lembra-me os preços marcados pelos proprietários de estabelecimentos de comércio tradicional, vulgo mercearias, que afinfam uns modestos "8,99/Kg" ou uns tímidos "3,98/Kg" escritos a lápis em papel manteiga com caligrafia tipo Vivenda das Andorinhas e que sorrindo, de lápis aparado entalado na orelha, esfregam as mãos uma na outra, envolvendo a mão esquerda com a direita e a mão direita com a esquerda, numa sucessão espasmódica de estertores de varejeira, enquanto tecem babosos cumprimentos de circunstância à clientela que por lá perpassa.
Se o relatório apresentado pela inefável Comissão Constâncio apresenta uma estimativa que não contempla os orçamentos das autarquias é porque não está bem feito, está incompleto, é falso e, por isso, cagativo. Rasgue-se pois e lixo com ele. O tiquezinho ridículo do empreiteiro aldrabão, que consiste em aproximar uma estimativa às centésimas para esconder os chorudos ganhos que prevê nos chamados trabalhos-a-mais, adoptado pela República Portuguesa é sintomático. O que esconde na manga hoje, será exposto, mostrado e oferecido mais tarde, embrulhado como promessa eleitoral em Outubro. É a falcatrua alcandorada a rigor orçamental, o elogio do pechisbeque, a sentença de morte em verso.

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