segunda-feira, agosto 15, 2005

Histórias de encantar V

Era uma vez um cego que tinha um cão.
O cego ia a vários sítios na cidade com o cão. Um dia chegou ao lado de cá da Av. da Liberdade que é o lado do S. Jorge e do Odéon. Resolveu ali e então que era altura de atravessar para o outro lado.
Aproximou-se da beira do passeio com o cão pela trela. Percebeu pelo som dos carros a abrandar e pelo disparar do sinal sonoro que era altura de atravessar. Deu um passo e estacou. O cão permanecia quedo, imóvel. O cego puxou pela trela, puxou, puxou e o cão nada. Assim que a cor do semáforo mudou para verde os carros arrancaram e o cão idem, arrastando o cego aflito para o meio do trânsito enquanto se faziam ouvir buzinas, chiar de pneus e impropérios. Chegados ao pimenteiro e saleiro a meio da avenida o cão estacou. Os carros também. De novo se ouviu o sinal sonoro indicando ser o momento seguro para a travessia do resto da avenida. E o cego puxou o cão e o cão nada. Imóvel, teimosamente parado. Nova mudança na cor dos semáforos e o cão relança o dono cego na alucinante travessia pelo meio do trânsito. Chegados finalmente ao outro lado, o cego parou e, trémulo, tirou um pacote de bolachas Maria de um saco de plástico azul cueca.
- Toma toma... - balbuciava o cego para o cão enquanto este, esticando a trela, tentava desesperadamente manter-se o mais afastado possível do dono. Um transeunte que passava e testemunhara a alucinante travessia e o obstruso comportamento do cão não se conseguiu conter de espanto e inquiriu o cego:
- Então o senhor vai dar bolachas a esse cão de um cabrão que quase o ia matando ?-
- Eu ? Nããã. Só quero saber onde está a cabeça do gajo para lhe dar um valente chuto nos tomates.

2 comentários:

Sofia disse...

Este Rei não existe...!! :)))

Sofia Bragança Buchholz disse...

Com um dono desses, eu, se fosse o cão, arrastava-o mas é para a ponte Vasco da Gama e induzia-o a saltar!

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