domingo, novembro 06, 2011

Os Evangelhos

Quando era puto imaginava os Evangelhos como sendo uns tipos muito muito velhos, sábios, de longas barbas brancas transmissores de verdades inatacáveis por serem tão velhas como eles.
Depois aprendi que eram Escrituras Sagradas, o que vem mais ao menos a dar no mesmo mas de sexo diferente. Fosse como fosse, era coisa séria.
Com o decorrer dos anos, da vida e doutras coisas, o tema tornou-se coisa apetecida por crentes, agnósticos e ateus; o segundo a dar sinal visível foi Saramago que, apercebendo-se do potencial mediático que o Salmão Rushdie revelou atacando a fé dos crentes seus conterrâneos, logo se apreçou a escrever um "Evangelho segundo Jesus Cristo" que lhe garantiu de imediato um lugar na grelha de partida para o grande prémio do Nobel, o gajo que inventou a pólvora.
Anos depois, Dan Brown retoma o filão e parte a loiça toda com o "Da Vinci Code", contribuindo de forma decisiva para uma retoma fantástica do turismo na Europa, nomeadamente em França e no Reino Unido. Com o seu último livro José Rodrigues dos Santos volta ao frigorífico e recupera o gosto pelas carnes frias revelando como verdades absolutas várias constatações entre as quais o facto de Jesus não ser cristão mas sim judeu, que tinha irmãos, que não ressuscitou, que não era filho de uma virgem, etc., etc., etc. A Igreja Católica através da contestação pública aos temas abordados no livro, numa notória publicidade pro bono, dá sinais de uma grande fragilidade ao mesmo tempo que acerta o passo com a sinistra herança da Congregação da Doutrina e da Fé, cujo chefe máximo era precisamente o cardeal Ratzinger, actual Papa.
Rodrigues dos Santos, por seu lado, voltou a ganhar uma notoriedade que jamais teria se só tivesse escrito livros a vida inteira, continuando a publicitar despudoradamente a marca MontBlanc, volteando frente às câmaras um exemplar sempre que pode.

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