Acabada a época dos incêndios, que vai de 14 de Maio a 14 de Outubro, e o semestre das aparições em Fátima, de 13 de Maio a 13 de Outubro (o cuidado e esmero com que a República se apropria de certas datas de forma insinuante e promíscua é digno de nota. Nem a porcaria do dia da implantação da República escapou de ser pespegado em cima do dia da Fundação do Reino de Portugal. Mas adiante) como eu dizia, acabado definitivamente o Verão, por decreto, com as autárquicas a chocalhar e o Sporting a implodir, eis que o país se suspende da hora mágica: as 20:00h de 20 de Outubro; o momento escolhido por Cavaco Silva, aluno de vintes segundo VPV, anunciar o que toda a gente sabe: a sua candidatura à Presidência da República. O que é espantoso nesta história em que o facto vem ao encontro de quem o espera, o que tem de notável é, precisamente, a gestão da sua previsibilidade. Tornar a expectativa realidade é, por si só, merecedor de confiança.
É por isso que Cavaco Silva vai ganhar as eleições. Alimentando e gerindo com habilidade a expectativa manteve igualmente a esperança na sua própria candidatura, e ao cumprir com o que prometeu (só anunciar a sua decisão após as autárquicas, seja ela qual for) devolve aos portugueses que o irão eleger um bem precioso nos conturbados dias que correm: a ilusão de que são donos do seu destino. Devolve, com juros, a segurança ilusória que caracteriza a previsibilidade. Quando Cavaco ganhar, todos os que votaram nele sentirão que ganharam também. E, por isso, ele vai ganhar.
Não porque possa fazer muito mais do que os seus predecessores, a Constituição não deixa, mas porque parece que pode. Quem cumpre aquilo que promete, ainda por cima sendo político, torna-se a excepção, arrastando com a simpatia dos eleitores mesmo que, posteriormente como agora, o que quer que venha a prometer e a cumprir seja irrelevante.
A oposição a Cavaco é, e será, inexistente; Louçã e Jerónimo de Sousa cumprem calendário à custa dos contribuintes, e tanto Alegre como Soares não passam de duas facções a abater dentro do próprio PS. A partir de Janeiro, após as eleições, o governo de Sócrates sairá reforçado graças à conclusão da limpeza interna no aparelho do partido com a garantia de que Cavaco não quererá outra coisa senão manter no poder um governo que, mantendo uma política impopular, procurará corrigir o deficit, conter a despesa pública, aumentar a receita fiscal, preparando o terreno para um regresso triunfal do PSD, sufragado por maioria por um povo farto de crise e de apertar o cinto . Nessa altura, provavelmente, será Rui Rio quem pedirá a palavra para concluir o que começou a dizer a José Sócrates no fim do passado dia 9 de Outubro.
quinta-feira, outubro 20, 2005
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2 comentários:
Prof. Cavaco = Homem imperturvavel.
Teoria da conspiração ou não, a verdade é que tem toda a lógica.
Um abraço.
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