se comemora deveria ser a do 868º aniversário da Fundação de Portugal. Mas para a maioria da população, com os miolos assepticamente higienizados por 101 anos de propaganda republicana, não é.
A data que o regime pretende que a população comemore hoje é a do 101º aniversário da sua própria implantação, num exercício estéril de mergulhar no universo através do próprio umbigo.
As dificuldades económicas da altura, uma altura em que Portugal tinha pela frente um conjunto inadiável de reformas económicas e sociais, a pouca credibilidade e aceitação que o "ideal republicano" tinha junto da maioria da população (nunca ultrapassando 7% dos votos) e a emergência de uma classe média urbana foram os três apoios principais para a implantação, à lei da bala, do regime republicano. Perante a ineficácia governativa do rotativismo dos dois principais partidos políticos, o Partido Regenerador e o Partido Progressista (bem diferente da eficácia demonstrada entre 1878 e 1890, em que Portugal saltou para a frente da Europa em várias aspectos do seu desenvolvimento chegando a ser, no final do sec. XIX, o país europeu com maior cobertura de caminho de ferro, por exemplo) o rei D.Carlos e o 1º Ministro João Franco implementaram em 1907 a Ditadura, que deveria durar até à realização de eleições em Maio do ano seguinte. Há que esclarecer as hostes para o significado de Ditadura no contexto da altura: significava que os poderes do Parlamento seriam suspensos temporáriamente para a implementação de medidas eficazes urgentes e pouco compatíveis com as diatribes e dislates de deputados pouco empenhados em governar...
É claro que à medida que as opções governativas de João Franco iam dando resultados e a data das novas eleições se aproximava, maior era o pânico da minoria republicana ao ver fugir-lhe em definitivo a conquista do poder. Prepararam então o assalto ao poder pela via das armas, iniciado com o atentado de Fevereiro de 1908. O que se passou nos dezasseis anos que decorreram após a implantação da República em 1910 e o Estado Novo de 1926 resume-se em poucas palavras: regabofe, banditagem, descalabro, censura, perseguições e caos económico.
Entre 1926 e 1974 a República manteve a censura as perseguições e o atraso generalizado do país até ao
boom económico iniciado nos anos 1950 com as exportações do continente para as províncias ultramarinas. É certo que Oliveira Salazar fez um excelente trabalho contabilístico nos 10 primeiros anos do regime republicano do Estado Novo mas nada mais.
Em 25 de Abril de 1974 um pronunciamento militar de oficiais de média patente ajudou a pôr fim ao regime republicano do Estado Novo, que por si só já estava a cair de podre.
Entre 1974 e 2011, a República Democrática mantém um regime hipócrita, em que as nomeações ao Parlamento são ditadas de cima. Com a implantação da República deixou de existir a democracia representativa por círculos uninominais instituída por D. Pedro V, passando os deputados a ser nomeados pelos dirigentes partidários num processo do tipo de "tu que tens mau feitio vais representar Castelo Branco e tu, que tens cara de vaca, vais representar os Açores" etc..
Neste momento, nas condições em que Portugal se encontra, é perfeitamente legítimo questionar
a razão de ser de um regime que, com os 101 anos de existência que hoje perfaz, tão pouco fez por Portugal e pela Democracia Representativa.